terça-feira, 21 de junho de 2011

Desapego


Há lembranças que carregam um peso que não se mede. Guardar o que a lembra é se tornar escravo da memória e esquecer aquilo que se estende em fios tão tênues do agora. Minha agenda foi revirada, meus textos rabiscam intensos suas pautas. Na vida nada se perde porque às mãos não cabem à posse, talvez apenas as fendas tão desajeitadas do instante que carregamos em miniatura. Se a boca escorre ao corpo, os lábios já não mais a tem. Já não o tenho mais. Já não se tem mais. E como todo ensinamento que beira à beleza oriental, respiro o ar que dentro de mim já não é mais ar. Guardar é reter o lixo e isso nunca nos é benefício a não ser que seja reutilizável. Mas há tantas outras coisas nas flores além de espinhos que talvez nem a isso o ato seja palpável.

Há tantos sorrisos que querem ser conhecidos e braços que querem um corpo para ter envolvido. Nas teclas caminha meus dedos em despedida, ao redor sempre estamos de partida, pois seca o líquido que há dias foi triste e derramado.

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