Eu gosto é do radioativo,
daquilo que me deprecia,
dos açúcares, das carnes, da fumaça fina.
Gosto dos gestos cálidos repentinos à beira da esquina.
do sal, dos excessos e da gordura na hora errada.
Do sono que prende, da sede que escorre, da vontade que morre,
da retórica imperfeita que se move nos lábios alheiros
e da língua que prova a minha.
Gosto da esquiva lógica capitalista,
da chuva que cai mansa na fronte recolhida nas tardes,
do coro desafinado que canta no pátio a religião,
do vazio nos espaços públicos.
Gosto da luz apagada, da frase repetida,
e não me obrigue a gostar da dor que faz sentir a vida.
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